História de Alhandra

 

Não se sabe ao certo quem foram os seus fundadores, mas as opiniões mais autorizadas inclinam-se a atribuir aos árabes os primeiros fundamentos desta povoação, que, antes de ser elevada à categoria de Vila, se chamava Torre Negra.

Segundo parece moravam os primitivos habitantes no alto e falda ocidental do monte chamado Miradouro, onde assenta a actual igreja matriz. Confirma esta suposição o ter-se encontrado naqueles sítios vestígios de antigas edificações e moedas de remota data, especialmente nas proximidades do chamado Poço Bravo. É certo também que o álveo do Tejo se estendia então ao sopé daquele monte, onde não há muitos anos se via uma argola indicando ter servido para amarração de barcos.

Efeitos do tempo, dos azares daquelas épocas agitadas ou de qualquer outra circunstância diminuíram a povoação até ao ponto de no princípio do Século XII estar completamente abandonada.

Em Abril de 1203, D. Sueiro Gomes, segundo bispo de Lisboa, a mandou povoar e lhe deu foral, em que reservava para os donatários tantas regalias e privilégios, que o Povo durante mais de dois séculos se viu oprimido a insuportáveis exigências, não cessando as contendas e vexames, até que em 11 de Janeiro de 1480, o Cardeal D. Jorge da Costa fez com o senado da Câmara da Vila uma escritura, em que se restringiam e delimitavam as exageradas prerrogativas dos arcebispos.

Existiu por mais de seis séculos o concelho d'Alhandra, incluindo, além da Vila, as freguesias de S. João dos Montes e Calhandriz; em 1795 foi elevada à categoria de juízo de fora; em 1850 foi-lhe anexado o concelho de Alverca, e por decreto de 24 de Outubro de 1855 foram um e outro anexados ao concelho de Vila Franca de Xira, ao qual desde então ficaram pertencendo. É também nesta última localidade a cabeça da comarca.

Em 1666 contava Alhandra 600 fogos e pertencia á Comarca de Torres Vedras.

A primeira igreja matriz foi de N. S. da Piedade, mais tarde de S. João dos Montes ou S. João da Praça. Esse templo pertence hoje à Misericórdia.

A actual igreja paroquial foi fundada em 1558 pelo cardeal D. Henrique, então arcebispo de Lisboa, no local onde estava uma ermida dedicada a Santa Catarina, virgem e mártir.

O templo, de três naves, é muito espaçoso, alegre, recebendo por largas frestas luz em profusão.

Houve antigamente em Alhandra um hospício - fundado por Maria Annes que mais tarde se reduziu a um simples albergue para mendigos. Ainda existia em 1591 numas casas da rua do Tento, e ignoramos o motivo porque acabou.

A quinta da Fonte foi doada a Alhandra pelo patriarca de Lisboa, D. Thomaz d'Almeida. Voltando de uma digressão ãs Caídas da Rainha, pernoitou em Alhandra hospedando-se em casa de uma família nobre da terra. Indagando do estado sanitário da povoação informaram-no de que a péssima água consumida pelo povo dava causa a muitas doenças, especialmente durante o verão. Condoído daquele mal, o virtuoso prelado deu uma importante soma destinada ã exploração d'água, construção do aqueduto e chafariz, sendo o rendimento do que sobrasse aplicado em beneficio dos pobres d'Alhandra, nomeando para isso uma comissão, que deveria sempre ser constituída pelo pároco (presidente nato) e algumas das autoridades civis ou pessoas mais gradas da terra. Compraram a Quinta de Roque Annes, hoje da Fonte, e nela construíram o aqueduto e chafariz, que está ao principio da Vila. Desse e dum poço chamado d'Além se abastece a povoação. A quinta da Fonte, que em tempo chegou a estar bastante deteriorada, tem sido desde 1860 administrada com o maior zelo. Na sua área se fizeram há bastantes anos alguns trabalhos de descoberta e exploração de uma mina de carvão fóssil, que tiveram de ser abandonados em razão da muita água que apareceu no jazigo.

As actvidades produtivas dominantes eram, até ao século XIX a pesca no tejo, a agricultura nas Lezírias e o fabrico de telha e tijolo. No final do século passado esta situação foi alterada pela forte implantação industrial: a fábrica de linho e juta, a fábrica de lã da Quinta da Figueira e a fábrica de cimento "Moreira Rato" instalaram-se na vila entre 1892 e 1894.

O fim do século XIX foi marcado também por um importante movimento cultural: fundação da Sociedade Euterpe Alhandrense em 1862, inauguração do Teatro Tália em 1865 e do "moderno" Teatro Salvador Marques em 1905. À dinâmica cultural somava-se o republicanismo - o Centro Republicano de Alhandra, nascido em 1881, deixou na vila o gérmen da ideologia que viria a expandir-se e a ganhar eleições locais ainda em plena monarquia.

A indústria viria a moldar o carácter de Alhandra ao longo do nosso século,condicionada a feição urbanística pela expansão da fábrica de cimento e os movimentos operários dominando a sociedade local.

Ainda não há muitos anos atrás, Alhandra vivia submersa num manto de cimento. Como consequência o vermelho dos telhados é acinzentado, o branco das casas é acinzentado, e os azulejos das casas têm tons forçados de predominância cinzenta.

A povoação torna-se, no entanto, curiosamente bonita quando se desce e se começa a percorrê-la com cuidado.

A maioria das casas é ainda da viragem e início do século, muitas delas com coberturas de azulejo industrial do século XIX. Da arte do ferro há interessantes varandas e sacadas. O coreto, embora tenha já perdido boa parte da sua moldura arquitectónica, está bem conservado, e a sua implantação no meio de uma placa ajardinada permite-lhe cumprir a sua função na única praça da povoação aberta ao rio.

Alhandra é uma zona industrial e pesquisa (esta última actividade tem vindo a perder importância nos útlimos anos). O cimento domina a vila, a entrada de camiões para a fábrica é uma situação original e insólita e uma mancha de cor no cinzento permanente da unidade industrial.

Junto ao Tejo, as barracas dos pescadores ribeirinhos foram demolidas recentemente e construído para estes um bairro habitacional na zona mais a norte da vila, junto ao rio. Contudo, as embarcações alinhadas junto à margem do rio ainda deixam transparecer a raíz de caracter piscatória desta vila.

Sobranceiro ao Tejo, um monte elevado, e a nascer dele uma coluna esguia com uma figura a coroá-la. O cimo do monte é um local aprazível com vista sobre o Tejo e as suas ilhas. A coluna encimada por um Hércules, figura mitológia que simboliza a força, assinala o termo das Linhas de Torres Vedras, série de fortificações edificadas em lugares estratégicos aquando das Invasões Francesas. A base da coluna memória tem duas inscrições de metal com a data de 1883, perpetuando a memória do oficial real do corpo de Engenheiros Neves Costa e do oficial inglês J. Fletcher: o primeiro fez os estudos do terreno e o segundo construiu as linhas.

À saída de Alhandra, no caminho para Vila Franca, na Quinta do Paraíso, uma placa diz-nos que aí nasceu em 1453, o 2º vice-rei da Índia, Afonso de Albuquerque.

 

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