BAPTISTA PEREIRA

Memorial

Joaquim Baptista Pereira nasceu a 7 de Marco de 1921, em Alhandra. Teria sido no Tejo, ao largo, ou na bateira acostada a um cais, ou ainda, no remanso de um dos esteiros.

Filho de Julio Pereira e de Adelaide Baptista, era um dos rapazes que, andrajosos, pés descalços, famintos, pontuavarn as ruas da Vila e que nunca foram à Escola. Sobreviviam pela muita manha e alguma audácia. A esperança de bem-estar assaltáva-os entre o mundo deles, necessitado de tudo, e o mundo dos outros rapazes bem comportados no dia a dia, com roupa lavada e mesa posta a horas. Mas, neste mundo, ressaltavam os "rebeldes" que, para a vagabundagem e as corridas às quintas, no bom tempo, sem chuva nem frio, ao assalto da fruta, tinham no Gineto (Baptista Pereira) um companheiro que Ihes agradava, apesar das zaragatas e das perseguições no tempo da escolaridade.

A vida destes rapazes carecidos de tudo, menos de sonhar, foi-nos transmitida magistralmente por um artista da literatura de ficção: Soeiro Pereira Gomes.

Neles, um factor comum mais os reunia: o nadar no Tejo, atravessando-o, ou ao longo das suas margens, em liberdade plena; nadar nos esteiros na hora da sesta, em desafio e brincadeira com os "patos bravos" dos telhais, usar o grande rio nas fugas aos castigos e à sanha dos adultos. O futuro nadador desmentia o Gíneto ao banhar-se com prazer no Tejo e ser um dos mais velozes a nadar. A aprendizagem fazia-se chafurdando nas margens e nos esteiros lodosos.

Com a charca que deu origem à Piscina, na década de 30, os dirigentes do Alhandra Sporting Club começaram por recrutar os nadadores adultos e aqueles rapazes que iam banhar-se na charca e que, por sua vez, miravam com algum gozo os adultos e os meninos bem comportados que nadavam "à cão", ou boiavam com coletes ou presos aos cintos de aprendizagem. Que figurão eles faziam, os rapazes da rua, perante aqueles autênticos "patos marrecos".

Ernesto Júlio Galamba foi o "segundo pai" de Baptista Pereira: recolheu-o, vestiu-o, alimentou-o, disciplinou-o sempre com dificuldade, pois a liberdade do Gineto, tal como ele a sentia, estava a ser ameaçada.

Mas criava-se o Baptista Pereira, e uma nova imagem surgiu nas competicões de Piscina e de rio, ao lado do seu mais próximo rival, companheiro e amigo também de Alhandra e do A.S.C.: Jofre de Carvalho. Jofre foi o primeiro nadador do seu Clube a distinguir-se em piscina - 1º nos 400 metros livres em 17/8/1936, com o tempo de 6m., 19s. e 4/10 - 4º na travessia do Tejo em 28/9/38, com 38m. e 15s., onde Baptista Pereira obteve o 9º lugar.

Baptista Pereira revolucionou a natação competitiva de piscina em Portugal. A supremacia incontestada, há muitos anos, do Sport Algés e Dafundo, com as suas piscinas de Verão e Inverno. e grandes nadadores que tinham contribuido, a alto nfvel, para o progresso da natação no Pafs Alberto Azinhais dos Santos e os Bessones - foi em grande parte uttrapassada por este Gineto que, na Piscina e no Rio, "comia" distância e adversários.

Ele pulverizou os recordes nacionais dos 200, 400, 500, 800, 1000 e 1500 metros livres. O seu estilo especial, e apesar das lições do húngaro Tarok; no Estoril, onde rmuitas vezes no Inverno foi Ievado por Ernesto Júlio Galamba - Crawl quando nos arranques ou nos pontos finais, Trudgen para um andamento certo, implacável levou-o a ser a figura de primeiro plano da natação portuguesa, de 1938 a 1949. Ou seja, dos 17 aos 28 anos, com mais esta qualidade para um nadador invulgar: começou tarde, mas deixou um rasto imperecível.

Deixada a natação pura, a de piscina, a força e a paixão do grande atleta levaram-no às maiores façanhas no mar e no rio, quc culminariam com a vitória da travessia do Canal da Mancha, em 21 de Agosto de 1954, com os recordes, por duas vezes estabelecidos, na Travessia do Estreito de Gibraltar, em 25 de Outubro de 1953 e em 22 de Setembro de 1956, e com o recorde da Europa de distância e permanência na água , estabelecido no Tejo.

Passou a ser e pela primeira vez na história do desporto português um atleta com notícia em jornais e revistas a nível internacional, tendo sido em virtude dos seus grandes feitos, galardoado com a rnedalha de mérito Desportivo Nacional.

Casado com Maria Antónia de Castro Melo Pereira, sua companheira de toda a vida, dessa união nasceram três filhos: Lucília Castro Baptista Pereira, Natércia Carmen de Castro Baptista Pereira e Tito Alexandre de Castro Baptista Pereira.

Faleceu em Alhandra, a 22 de Junho de 1984, e está sepultado no cemitério da Vila, sobranceiro aos horizontes desafogados do Tejo.

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